segunda-feira, 30 de novembro de 2009

meditação


Quem acreditou / No amor, no sorriso, na flor / Então sonhou, sonhou... / E perdeu a paz / O amor, o sorriso e a flor / Se transformam depressa demais / Quem, no coração / Abrigou a tristeza de ver tudo isto se perder / E, na solidão / Procurou um caminho e seguiu, / Já descrente de um dia feliz / Quem chorou, chorou / E tanto que seu pranto já secou / Quem depois voltou / Ao amor, ao sorriso e à flor / Então tudo encontrou / E a própria dor / Revelou o caminho do amor / E a tristeza acabou.

* sábio mestre Tom!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Pra você!


Quando vi você pela primeira vez, não havia dores, nem susto, nem marcas. Um futuro inteiro, redondo e completo animava-se a surgir com a sua presença.
Grandioso, insinuava-se no horizonte da vida.

Nos gostamos de primeira, é fato. Éramos iguais, já ali, mas ainda nem desconfiávamos da benção. Não sei precisar as palavras de estréia, talvez um olá, quer uma coca-cola?, baixinho pelas maravilhas naturais que nos cercavam. Estranhamente você nunca havia me despertado antes. E acho até que nem vislumbrava a minha presença.

Você adorava cozinhar, eu adorava saborear. Você se sentava na beira do riacho, rodeado pela meia dúzia de amigos ali presentes, amigos saudosos que continuam tão próximos, como se estivessem aqui. Eu desfilava pra lá e pra cá, ansiosa por enredos e aconchego, órfã de tantas coisas. Você gostava de rock, eu apreciava a Bossa Nova e canções sessentinas.

Um dia, entre uma conversa e outra, reparei o ritmo pausado e calmo das suas frases, o sorriso de canto, um tanto oblíquo, receoso de exibições públicas; eu com a mania de falar e falar e falar, embora apenas a um punhado de raros merecedores, e descobri: você já era um grande amor.

Como num raríssimo passe de mágica, você chegou à mesma conclusão. Iniciamos, então, uma rotina própria: voltinhas desnorteadas na Beira-mar, conversas soletradas, Beatles ao lado da caixa de som, olhares inclinados, revistas devoradas, trabalhos acumulados, idéias estapafúrdias - aquela sintonia afinada e fresca, nossa companheira até hoje.

Você sempre estava ali, segurando as minhas mãos, cobrindo de permanências. Eu já sabia que podia contar com você. Eu já encontrava você ali, comigo, em mim, como nunca havia acontecido.

Você me dava as mãos, num gesto tão espontâneo quanto discreto, à sua maneira. Como se não pudesse ser de outro jeito, como se já estivéssemos atrasados naquele encontro. Trocamos e-mails, idéias, almas, histórias, aprontos inconfessáveis. Você sempre foi minha única censura – ao menos a que escuto, com paciência.

Ouvi-lo falar, mesmo as besteiras mais descabidas, mesmo as teimosias mais infundadas, mesmo as defesas mais apelativas, mesmo as habituais ironias sobre mim mesma, será sempre a suspensão de uma solidão as vezes persistente.

Porque nada mudou depois desses anos: as briguinhas, feito crianças, os embates que atormentam tantas madrugadas, a cumplicidade absoluta – tudo aqui, entre nós.

Continuamos perseguindo a mesma paisagem, quase sempre uma paisagem que só a gente conhece, a salvo dos olhares dos outros todos. Continuamos incapazes de explicar nossa fraternidade especial e gratuita, espontânea como tudo o que é de verdade, a salvo da crueldade do mundo. Eu não tenho você somente como amigo, querido. Há anos eu tenho um amor.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

trechinhos


"Repito todas as manhãs, ao abrir as janelas para deixar entrar o sol ou o cinza dos dias, bem assim: que seja doce. Quando há sol e esse sol bate na minha cara amassada do sono ou da insônia, contemplando as partículas de poeira soltas no ar, feito um pequeno universo, repito sete vezes para dar sorte: que seja doce que seja doce que seja doce e assim por diante. Mas, se alguém me perguntasse o que deverá ser doce, talvez não saiba responder.Tudo é tão vago como se não fosse nada."

(Caio Fernando Abreu, em Os dragões não conhecem o paraíso)

à Maria, que seja doce e assim por diante!!